sábado, 4 de junho de 2016

MEDITAR COM CRIANÇAS É POSSÍVEL?

MEDITAR COM CRIANÇAS É POSSÍVEL?

Há pouco tempo atrás a forma e intensidade de interação dos seres humanos era diferente. Esse aspecto da convivência humana foi, desde o surgimento do homem até algumas décadas atrás, realizado [unicamente] de forma presencial, sendo, desse modo, rica de estímulos no que tange aos sentidos. Hoje, temos novas formas de interação.. com bebês, vemos os móbiles e babás eletrônicas, e com as crias maiorzinhas, os tablets e as Tvs, tomar parte do processo de cuidados com as crianças. As crianças escolares, já não marcam a brincadeira na rua ou no play, mas interagem, em grande parte do tempo, através de jogos e conversas online.

Por diversos motivos (violência urbana, entrada da mulher no mercado de trabalho, mudanças das leis trabalhistas, agenda das crias e etc) a tecnologia entrou em nossas casas e substituiu parte do contato humano. Sabe-se que essa tecnologia quando usada de forma responsável e orientada pode ser um recurso para ajudar o desenvolvimento dos pequenos, porém quando utilizada em excesso tende a suprimir o contato da criança com a natureza - o que pode prejudicá-la emocionalmente e cognitivamente.

Ora, durante milhares de anos o desenvolvimento humano foi orientado pelo contato com a natureza e com o outro, sendo assim, a deficiência no contato com esses elementos, certamente irá interferir no desenvolvimento socioemocional das crianças. Por isso, observando esse problema, mas também todas as questões que nos conduziram até aqui, hoje há uma tendência em se buscar o contato humano e com a natureza através de recursos condizentes com o estilo de vida atual.

Nesse sentido, muito se fala nos benefícios de praticar mindfulness (atenção plena) com crianças nos ambientes escolar e comunitário, mas também é importante orientar a pais, direcionando-os para um estilo de vida que caibam práticas como meditação, por exemplo. Pois bem, uma das maneiras de se treinar a 'atenção plena' é através de meditação porém, quando a proposta é fazer um trabalho de meditação com crianças precisamos observar alguns pontos:

1. A meditação para as crianças não pode se realizar da mesma maneira (utilizando práticas e técnicas) das pessoas de negócios de meia-idade ou pessoas que procuram o conhecimento superior. Em vez disso, neste contexto, a meditação é um processo que contempla o crescimento do corpo-mente da criança, promove o desenvolvimento de uma personalidade e que deve apoiar a criatividade e expressão.

2. Crianças com menos de oito anos de idade não precisam de treinamento formal. Vale lembrar que para essa faixa de idade é mais importante que seus pais possam aprender e praticar meditação e tragam os princípios dessa prática para suas casas. Crianças absorvem a energia do meio ambiente, se os pais praticam alguma forma de auto-desenvolvimento, os seus filhos vão crescer em um ambiente mais saudável, mais relaxado e consciente.Contudo, pode-se sim utilizar algumas técnicas de meditação com crianças dessa idade, em especial técnicas que buscam atingir a consciência corporal. A partir de 8 anos, o trabalho com meditação busca através de técnicas (como respiração e mantras) o equilíbrio dos efeitos da puberdade, ou seja, que o amadurecimento do corpo e da mente estejam coordenados - o que por si só diminui os 'problemas' referentes a 'adolescência normal' (Aberastury explica!)

3. Sabe-se que a capacidade de gerenciar a atenção, tanto para as questões externas (o que acontece ao seu exterior), como as questões internas (o que acontece no seu interior - pensamentos, emoções), pode ajudar no desenvolvimento das funções neuropsicológicas (como memória, funções executivas..), assim como no desenvolvimento emocional, colaborando assim para um bom desempenho socioemocional. Sendo assim, as técnicas de meditação para crianças podem ajudá-los a relaxar e concentrar-se melhor durante a escola, de modo que eles possam manter atenção e memorizar de forma mais eficaz. Do ponto de vista socioemocional, boas técnicas de meditação podem ensinar as crianças a auto-consciência, incentivá-los a ser eles mesmos (autoconceito positivo), e ajudá-los a enfrentar a vida com maior crença no seu potencial (resiliência).

Se você que leu até aqui respirou profundo e decidiu incluir a meditação na vida da sua família e, especialmente das crias, vai aí algumas dicas:

.1. A respiração é a âncora - Todas as pessoas que praticam e ensinam meditação têm que saber que a respiração é o ponto inicial e final para todos os tipos de meditação. As crianças podem aprender que simplesmente observar a respiração (ou se eles são mais jovens, levando-os a tocar com o seu peito / barriga afim de perceber a respiração), pode ajuda-los em diversos momentos.

2. Flexibilidade e Imaginação - Em diversos momentos, as crianças nem sempre respondem da maneira que queremos, e na meditação não é diferente. Podemos orientá-los sobre como se sentar, fechar os olhos e coisas do tipo, mas se eles não querem fechar os olhos, então não se pode forçá-los. Nesse momento, bom senso e capacidade de improvisar de forma eficaz, vale ouro! Dê-lhes algo para olhar (no chão, se eles estão sentados ou no teto, se eles estão deitados).

3. Ser paciente - Há muitas maneiras ou abordagens para mindfulness e meditação, mas não deve haver rigidez, ou seja, a prática deve ter um objetivo mas não podemos ficar ligadas à ele. Em vez disso, fique aberta para as demandas e caminhos que surgem durante a prática - apreciar e perceber o que você observa. Se as crias estão inquietas, perceber isso e, talvez, apenas perceber a energia delas e fazê-las notar o seu próprio equilíbrio.

Por fim, a dica de ouro: pratique o que você ensina.Isso faz com que o ensino da meditação uma experiência muito valiosa para todos.

Ana Paula Veiga - Psicóloga Infantil - CRP 08/18064
Especialista em Neuropsicologia Infantil - UNICAMP

p.s.: A ilustração traz um dos cartões usados no consultório ou com os pais em casa para motivar os clientinhos a meditar.

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