segunda-feira, 21 de julho de 2014

Experiências com a expressividade das linguagens artísticas


Experiências com a expressividade das linguagens

artísticas

Esse campo reúne aprendizagens desejáveis para que toda criança se aproprie

de diversas linguagens que constroem as manifestações artísticas e trabalham a

expressividade humana. Sua ação criativa necessita da imaginação, que se desenvolve

especialmente através do jogo simbólico, mas também por meio da narrativa de

histórias e de explorações variadas do desenho, música e teatro.

As linguagens artísticas apóiam as crianças na ampliação de sua sensibilidade

e capacidade de lidar com sons, ritmos, melodias, formas, cores, imagens, gestos,

falas, e com obras elaboradas por artistas e por elas mesmas, que emocionam e

constituem o humano.

A expressividade pressupõe, acima de tudo, muita pesquisa e experimentação,

e uma grande familiaridade com os materiais e processos que estão implicados nos

diferentes fazeres artísticos. Deve-se reconhecer o que as crianças já sabem, como

se expressam, o que gostam de produzir, olhar, escutar, reconhecer a intenção, o

propósito, o prazer que está por traz de cada gesto, de cada traço ou movimento delas

e saber propor desafios que façam sentido para elas. Além disso, é fundamental para

professor incentivar expressões em linguagens diferentes, lembrando que a criança é

uma totalidade e poderá organizar suas percepções sensoriais de modo extremamente

criativo, articulando diferentes linguagens ou, quem sabe, criando novas.

Adotamos com princípio para a organização das expectativas os seguintes pontos:

• Contrariando concepções inatistas da criatividade, defendemos que o interesse, a

curiosidade e a sensibilidade não são frutos de um desenvolvimento natural puro

e simples, senão mediados por elementos simbólicos. Portanto, só podem ser

desenvolvidos pela criança a partir de sua própria ação, sua predisposição para

solucionar os problemas que ela mesma se impõe.

• A curiosidade infantil deve ser permanentemente alimentada e incentivada pelos professores

e pela construção no CEI, creche ou EMEI de um ambiente favorável à criação.

• Os processos de criação das crianças têm absoluta prioridade na atenção dos

professores, e não o produto final daqueles processos.

• As crianças trabalham a partir de proposições externas (do professor, por exemplo) e

de proposições pessoais.

Na perspectiva de apontar orientações didáticas comuns à exploração da

expressividade, pode-se dizer que, no trabalho educativo, a história da arte e as

produções dos artistas nos diferentes campos (artes visuais, dança, teatro música,

etc.) não estão postas como objetos em si mesmos, mas sim a serviço do processo

criativo da criança, da construção de modos de fazer e pensar em diferentes contextos.

Além disso, a experiência expressiva não depende de uma busca desenfreada a fazer

mais e mais. Tão importante quanto fazer, é ver, apreciar, fruir. O tempo de fazer deve

ser equilibrado com o tempo de olhar, pensar, imaginar e conhecer processos de

produção. Esse complexo de experiências pode ser organizado no cotidiano do CEI,

creche e EMEI de diferentes modos:

1. como parte de uma seqüência organizada de propostas – Trata-se de organizar o

tempo em uma rotina educativa que reúne um conjunto de situações planejadas e

orientadas com o objetivo de promover aprendizagens específicas que o professor

tenha avaliado como necessárias em um dado momento do percurso de um grupo

de crianças. No entanto, é importante lembrar que, para além da intencionalidade

do professor, as crianças também têm suas próprias iniciativas para trabalhar. A

seqüência apresenta problemas que as crianças deverão resolver de diferentes

modos: fazendo, pensando, experimentando, afirmando, perguntando etc. As

propostas são organizadas seguindo uma lógica do ponto de vista do que se quer

ensinar em relação ao como a criança aprende. Elas possibilitam uma orientação

mais atenta do professor para o aprofundamento dos problemas de criação que ele

considera desafiadores para um grupo de crianças, quer sejam problemas plásticos,

questões envolvendo a música, o teatro etc. Levantados os avanços e desafios, o

professor pode propor novas seqüências de atividades que ajudem as crianças a

aprender sobre os materiais, seus processos e possibilidades expressivas.

2. como situações vividas de modo permanente – Atividade permanente é aquela que

acontece com regularidade (diariamente, uma ou duas vezes por semana, etc.) ao longo

de anos. Ela assegura que as crianças tenham mais de uma oportunidade de vivenciar

certas experiências que necessitam de mais tempo e de regularidade para apropriação.

3. como projetos compartilhados em grupo – Conjunto de várias propostas planejadas

coletivamente em torno de um objetivo comum, tal como ensaiar um coral, uma nova

coreografia ou peça teatral, por exemplo.

Além da organização das atividades ao longo do tempo, faz-se necessário

selecionar certos tipos de materiais e planejar os usos dos mesmos pelas crianças.

O professor sempre faz intervenções, ainda que não tenha consciência delas. A

simples definição do material que será utilizado abre possibilidades muito diferentes

para as crianças. Sabe-se que muito do desejo e do impulso de criação não provêm

de idéias previamente organizadas, mas nascem a partir do contato com os materiais e

das possibilidades que são sugeridas, por exemplo, por um papel de cor diferente onde

se vai desenhar, por um pandeiro ou outro instrumento confeccionado artesanalmente

de onde se vai tirar diferentes sons, de indumentárias e luzes que serão usados na

dramatização etc. Por isso, a escolha e a apresentação sistemática, organizada e

contextualizada de materiais são fundamentais no processo criativo.

Definir a quantidade e a qualidade dos materiais, disponibilizá-los de um modo

que a criança sinta-se incentivada a experimentá-los e oferecer a ajuda necessária

para o desenvolvimento de suas idéias são pontos importantes em um planejamento

que considere o modo próprio de agir, pensar e sentir das crianças.

É importante que o professor apresente o material, por exemplo, instrumentos

musicais, tintas e pincéis, tecidos do cenário etc. antes da atividade, sobretudo

para as crianças de 2 e 3 anos, que recorrem à imitação do adulto para aprender

os procedimentos utilizados nas atividades. Na apresentação de qualquer material

desconhecido pelas crianças é fundamental ritualizar o primeiro contato e assegurar

tempo para elas se apropriarem de suas possibilidades.

É muito comum que as crianças que já possuem conhecimentos básicos sobre o uso

de alguns materiais e suportes e que desenvolvem propostas colocadas pelo professor,

sintam prazer em utilizar desses conhecimentos em outras situações de produção não

orientadas. Para elas, conhecer novos materiais e diferentes usos e combinações dos

mesmos é motivo de investigação criadora: uma idéia leva a outra e assim elas seguem

pesquisando e descobrindo efeitos que não lhes foram ensinados anteriormente.

Igualmente se faz preciso a organização do ambiente de trabalho. O espaço

onde as crianças vivem suas experiências expressivas deve ser organizado sob dois

pontos de vista: o coletivo e o individual.

Do ponto de vista coletivo, é importante manter um ambiente favorável à criação,

tanto do ponto de vista material quanto imaterial, conforme o professor disponibilize

para o grupo, pouco a pouco, ao longo dos meses, uma maior diversidade de materiais,

organizados de modo tal que as crianças saibam onde recorrer quando precisam de

algo específico e saibam onde guardá-lo quando terminar de usá-lo. Compõem esse

ambiente as produções de crianças, as reproduções de artistas, o acervo musical, a

coleção de imagens favoritas do grupo e outras que o professor disponibiliza e tudo

o mais que possa ser útil na ampliação de referências do grupo. É importante que o

professor mantenha uma atmosfera em que se arriscar, experimentar, mostrar o que

fez etc. sejam valores reconhecidos por todos e desejados pelas crianças.

Com relação à organização do espaço individual de trabalho, pode-se dizer que

ele já se constitui como uma atividade que pressupõe que as crianças organizem

também todas as condições e os meios necessários à sua produção. Por isso é

fundamental que elas aprendam progressivamente a cuidá-los até que possam, por

conta própria, por exemplo, misturar as cores, separar as quantidades que precisam,

escolher e preparar seu suporte, materiais e os posicionar na direção e sentido que

mais lhe agradem em função de seu uso, aprendizagens importantes para a linguagem

visual. Da mesma forma, arrumar o cenário, separar indumentárias e todo o material

a ser utilizado no teatro, ou arrumar a sala dispondo certos instrumentos musicais ou

objetos sonoros, também permitem que a criança antecipe idéias e sentimentos com

relação às atividades que estão por vir.

Do mesmo modo, é importante incorporar a limpeza do ambiente ao trabalho

das crianças, pois esse momento, além de se configurar como atividade das mais

prazerosas, limpar o ambiente também oportuniza explorações variadas: a mudança

das cores e tonalidades nas misturas da água que serviram outrora para lavar pincéis, a

presença e transformação das cores em contato com as mãos, a textura das esponjas,

etc. Tudo isso colabora para a construção de experiências visuais que vão muito além

das marcas que já foram produzidas seja no desenho, pintura, modelagem, etc.

Todos esses cuidados têm como expectativa trabalhar com as crianças os

processos de produção e de transformação, a busca de significações, a confiança

e a valorização da experiência do outro e a postura do professor como mediador de

um processo criativo que é essencialmente singular, próprio de cada criança. Não

se defende um único padrão de beleza, clássico, mas sim as diferentes abordagens

construídas pelo homem ao longo de sua história, abrindo assim as possibilidades

expressivas e sensíveis das crianças.

(ORIENTAÇÕES CURRICULARES Expectativas de Aprendizagens e Orientações Didáticas)

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