Experiências
com a expressividade das linguagens
artísticas
Esse campo
reúne aprendizagens desejáveis para que toda criança se aproprie
de diversas
linguagens que constroem as manifestações artísticas e trabalham a
expressividade
humana. Sua ação criativa necessita da imaginação, que se desenvolve
especialmente
através do jogo simbólico, mas também por meio da narrativa de
histórias e de
explorações variadas do desenho, música e teatro.
As linguagens
artísticas apóiam as crianças na ampliação de sua sensibilidade
e capacidade
de lidar com sons, ritmos, melodias, formas, cores, imagens, gestos,
falas, e com
obras elaboradas por artistas e por elas mesmas, que emocionam e
constituem o
humano.
A
expressividade pressupõe, acima de tudo, muita pesquisa e experimentação,
e uma grande
familiaridade com os materiais e processos que estão implicados nos
diferentes
fazeres artísticos. Deve-se reconhecer o que as crianças já sabem, como
se expressam,
o que gostam de produzir, olhar, escutar, reconhecer a intenção, o
propósito, o
prazer que está por traz de cada gesto, de cada traço ou movimento delas
e saber propor
desafios que façam sentido para elas. Além disso, é fundamental para
professor
incentivar expressões em linguagens diferentes, lembrando que a criança é
uma totalidade
e poderá organizar suas percepções sensoriais de modo extremamente
criativo,
articulando diferentes linguagens ou, quem sabe, criando novas.
Adotamos com
princípio para a organização das expectativas os seguintes pontos:
• Contrariando concepções inatistas da criatividade, defendemos
que o interesse, a
curiosidade e a sensibilidade não são frutos de um desenvolvimento
natural puro
e simples, senão mediados por elementos simbólicos. Portanto, só
podem ser
desenvolvidos pela criança a partir de sua própria ação, sua
predisposição para
solucionar os problemas que ela mesma se impõe.
• A curiosidade infantil deve ser permanentemente alimentada e
incentivada pelos professores
e pela construção no CEI, creche ou EMEI de um ambiente favorável
à criação.
• Os processos de criação das crianças têm absoluta prioridade na
atenção dos
professores, e não o produto final daqueles processos.
• As crianças trabalham a partir de proposições externas (do
professor, por exemplo) e
de proposições pessoais.
Na perspectiva
de apontar orientações didáticas comuns à exploração da
expressividade,
pode-se dizer que, no trabalho educativo, a história da arte e as
produções dos
artistas nos diferentes campos (artes visuais, dança, teatro música,
etc.) não
estão postas como objetos em si mesmos, mas sim a serviço do processo
criativo da
criança, da construção de modos de fazer e pensar em diferentes contextos.
Além disso, a
experiência expressiva não depende de uma busca desenfreada a fazer
mais e mais.
Tão importante quanto fazer, é ver, apreciar, fruir. O tempo de fazer deve
ser
equilibrado com o tempo de olhar, pensar, imaginar e conhecer processos de
produção. Esse
complexo de experiências pode ser organizado no cotidiano do CEI,
creche e EMEI
de diferentes modos:
1. como parte de uma seqüência organizada de propostas – Trata-se
de organizar o
tempo em uma rotina educativa que reúne um conjunto de situações
planejadas e
orientadas com o objetivo de promover aprendizagens específicas
que o professor
tenha avaliado como necessárias em um dado momento do percurso de
um grupo
de crianças. No entanto, é importante lembrar que, para além da
intencionalidade
do professor, as crianças também têm suas próprias iniciativas
para trabalhar. A
seqüência apresenta problemas que as crianças deverão resolver de
diferentes
modos: fazendo, pensando, experimentando, afirmando, perguntando
etc. As
propostas são organizadas seguindo uma lógica do ponto de vista do
que se quer
ensinar em relação ao como a criança aprende. Elas possibilitam
uma orientação
mais atenta do professor para o aprofundamento dos problemas de
criação que ele
considera desafiadores para um grupo de crianças, quer sejam
problemas plásticos,
questões envolvendo a música, o teatro etc. Levantados os avanços
e desafios, o
professor pode propor novas seqüências de atividades que ajudem as
crianças a
aprender sobre os materiais, seus processos e possibilidades
expressivas.
2. como situações vividas de modo permanente – Atividade
permanente é aquela que
acontece com regularidade (diariamente, uma ou duas vezes por
semana, etc.) ao longo
de anos. Ela assegura que as crianças tenham mais de uma
oportunidade de vivenciar
certas experiências que necessitam de mais tempo e de regularidade
para apropriação.
3. como projetos compartilhados em grupo – Conjunto de várias
propostas planejadas
coletivamente em torno de um objetivo comum, tal como ensaiar um
coral, uma nova
coreografia ou peça teatral, por exemplo.
Além da
organização das atividades ao longo do tempo, faz-se necessário
selecionar
certos tipos de materiais e planejar os usos dos mesmos pelas crianças.
O professor
sempre faz intervenções, ainda que não tenha consciência delas. A
simples
definição do material que será utilizado abre possibilidades muito diferentes
para as
crianças. Sabe-se que muito do desejo e do impulso de criação não provêm
de idéias
previamente organizadas, mas nascem a partir do contato com os materiais e
das
possibilidades que são sugeridas, por exemplo, por um papel de cor diferente
onde
se vai
desenhar, por um pandeiro ou outro instrumento confeccionado artesanalmente
de onde se vai
tirar diferentes sons, de indumentárias e luzes que serão usados na
dramatização
etc. Por isso, a escolha e a apresentação sistemática, organizada e
contextualizada
de materiais são fundamentais no processo criativo.
Definir a
quantidade e a qualidade dos materiais, disponibilizá-los de um modo
que a criança
sinta-se incentivada a experimentá-los e oferecer a ajuda necessária
para o
desenvolvimento de suas idéias são pontos importantes em um planejamento
que considere
o modo próprio de agir, pensar e sentir das crianças.
É importante
que o professor apresente o material, por exemplo, instrumentos
musicais, tintas
e pincéis, tecidos do cenário etc. antes da atividade, sobretudo
para as
crianças de 2 e 3 anos, que recorrem à imitação do adulto para aprender
os
procedimentos utilizados nas atividades. Na apresentação de qualquer material
desconhecido
pelas crianças é fundamental ritualizar o primeiro contato e assegurar
tempo para
elas se apropriarem de suas possibilidades.
É muito comum
que as crianças que já possuem conhecimentos básicos sobre o uso
de alguns
materiais e suportes e que desenvolvem propostas colocadas pelo professor,
sintam prazer
em utilizar desses conhecimentos em outras situações de produção não
orientadas.
Para elas, conhecer novos materiais e diferentes usos e combinações dos
mesmos é
motivo de investigação criadora: uma idéia leva a outra e assim elas seguem
pesquisando e
descobrindo efeitos que não lhes foram ensinados anteriormente.
Igualmente se
faz preciso a organização do ambiente de trabalho. O espaço
onde as
crianças vivem suas experiências expressivas deve ser organizado sob dois
pontos de
vista: o coletivo e o individual.
Do ponto de
vista coletivo, é importante manter um ambiente favorável à criação,
tanto do ponto
de vista material quanto imaterial, conforme o professor disponibilize
para o grupo,
pouco a pouco, ao longo dos meses, uma maior diversidade de materiais,
organizados de
modo tal que as crianças saibam onde recorrer quando precisam de
algo
específico e saibam onde guardá-lo quando terminar de usá-lo. Compõem esse
ambiente as
produções de crianças, as reproduções de artistas, o acervo musical, a
coleção de
imagens favoritas do grupo e outras que o professor disponibiliza e tudo
o mais que
possa ser útil na ampliação de referências do grupo. É importante que o
professor
mantenha uma atmosfera em que se arriscar, experimentar, mostrar o que
fez etc. sejam
valores reconhecidos por todos e desejados pelas crianças.
Com relação à
organização do espaço individual de trabalho, pode-se dizer que
ele já se
constitui como uma atividade que pressupõe que as crianças organizem
também todas
as condições e os meios necessários à sua produção. Por isso é
fundamental
que elas aprendam progressivamente a cuidá-los até que possam, por
conta própria,
por exemplo, misturar as cores, separar as quantidades que precisam,
escolher e
preparar seu suporte, materiais e os posicionar na direção e sentido que
mais lhe
agradem em função de seu uso, aprendizagens importantes para a linguagem
visual. Da
mesma forma, arrumar o cenário, separar indumentárias e todo o material
a ser
utilizado no teatro, ou arrumar a sala dispondo certos instrumentos musicais ou
objetos
sonoros, também permitem que a criança antecipe idéias e sentimentos com
relação às
atividades que estão por vir.
Do mesmo modo,
é importante incorporar a limpeza do ambiente ao trabalho
das crianças,
pois esse momento, além de se configurar como atividade das mais
prazerosas,
limpar o ambiente também oportuniza explorações variadas: a mudança
das cores e
tonalidades nas misturas da água que serviram outrora para lavar pincéis, a
presença e
transformação das cores em contato com as mãos, a textura das esponjas,
etc. Tudo isso
colabora para a construção de experiências visuais que vão muito além
das marcas que
já foram produzidas seja no desenho, pintura, modelagem, etc.
Todos esses
cuidados têm como expectativa trabalhar com as crianças os
processos de
produção e de transformação, a busca de significações, a confiança
e a
valorização da experiência do outro e a postura do professor como mediador de
um processo
criativo que é essencialmente singular, próprio de cada criança. Não
se defende um
único padrão de beleza, clássico, mas sim as diferentes abordagens
construídas
pelo homem ao longo de sua história, abrindo assim as possibilidades
expressivas e sensíveis
das crianças.
(ORIENTAÇÕES CURRICULARES Expectativas de Aprendizagens e Orientações Didáticas)
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